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Pesquisas UFSJ

A difusão do livro através de bibliotecas particulares em São João del-Rei (1831-1840) . Eufrásia Carlita de Castro

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A DIFUSÃO DO LIVRO ATRAVÉS DE BIBLIOTECAS PARTICULARES EM SÃO JOÃO DEL REI (1831-1840)
Autora: Eufrásia Carlita de Castro

Nos propomos, neste trabalho, a analizar a difusão de livros através de bibliotecas particulares em São João del-Rei durante a década de 30 do século XIX. A escolha deste quadro cronológico se deu em virtude de uma maior disponibilidade de fontes referentes a este período. Trata-se de uma farta bibliografia sobre a vila de São
João del Rei, relatos de viajantes, que deixaram registradas as impressões que tiveram da vila, e inventários post-mortem. Tivemos acesso a todos os inventários referentes ao período que elegemos para nossa pesquisa, selecionamos aqueles que possuíam acervos particulares. Através das informações prestadas pelos avaliadores dos bens dos inventariados, também foi possível nos inteirar a respeito do ofício daqueles que
dispunham de bibliotecas particulares e da composição de seus acervos, que foram quantificados e classificados. Optamos pelo recorte munincipal para nossa pesquisa uma vez que a documentação se mostrou demasiada extensa. Privilegiamos o estudo de bibliotecas particulares por acreditar que esta forma de acesso ao impresso nos possibilita verificar o que dispunham os sanjoanenses para fazer suas leituras, e também para nos informar sobre as opções feitas por seus possuidores ao selecionarem suas leituras. No entanto, não acreditamos que a posse do livro é condicionadora de diferenciações culturais ou sociais, e nem que nos permita discorrer sobre a leitura. Estamos cientes que questões relativas a leitura requerem cuidado, uma vez que pode haver uma distância entre os textos que foram lidos e as idéias que se fizeram sobre eles. Desta forma concordamos com Chartier quando ele afirma que “...Sem abandonar as medições e as séries, a história dos textos e dos livros deve ser , antes de mais, reconstituição das distâncias nas práticas. Logo uma história do absorver a mão-de-obra escrava da província, uma vez que Minas detinha o maior plantel mancípio dos país ?
A partir deste problema, os estudos sobre os oitocentos mineiros contribuíram para que se reavaliasse as velhas teses da estagnação econômica após a decadência da mineração e da perda de escravos para as regiões cafeeiras. Setores como a agricultura mercantil de subsistência, uma nascente indústria têxtil, a
siderurgia, a cafeicultura na Zona da Mata e a própria mineração absorviam a maior parte dessa mão-de-obra escrava e também da livre. Entre as principais atividades que absorviam essa mão-de-obra estava a agricultura mercantil de subsistência, cuja produção destinava-se ao mercado interno. Este setor impedia
que se acelerasse a diminuição do plantel escravo inclusive na região Metalúrgica-Mantiqueira, tradicionalmente ligada às atividades mineradoras e da qual fazia parte São João del-Rei. Até 1840, a região detinha o maior plantel da província, e, mesmo em 1872, ainda era o segundo maior.
Nesse quadro mineiro dos oitocentos, São João del-Rei aparece como um importante entreposto comercial da província. Da cidade e região saíam tropas levando toucinho, queijos, couros, algodão em rama, panos grosseiros ou conduzindo porcos e gado “vacum”, principalmente para a Corte do Rio de Janeiro, como observou o viajante francês Saint-Hilaire no início do século XIX. 
Cabeça da Comarca do Rio das Mortes, a vila e depois cidade de São João del-Reitornou-se importante centro comercial e, por isso mesmo, ainda segundo Saint-Hilaire, ela não apresentava o ar triste e de abandono característico de outras localidades após a decadência da mineração aurífera. Segundo Richard Burton, inglês que esteve na cidade na década de 1850, São João contava com 10 praças, 24 ruas e 1600 casas (das quais, 80 eram sobrados), 64 casas comerciais (de brasileiros e estrangeiros), uma hospedaria, várias “tavernas” e 4 boticas. Quanto à sua população, Burton informa que, em 1859, o município contava com “21.500
almas, das quais 15.200 eram livres, 100 estrangeiros e 6.200 escravos, elemento que estava
em rápido decréscimo”.
A respeito da estrutura ocupacional da população são-joanense, Ângela Magalhães Martins, analisando as listas nominativas dos períodos 1831/32 e 1838/40, confirma que a região era predominantemente agrícola, atividade que ocupava a maior parcela da população masculina livre e escrava. A autora, no entanto, também observa que na vila de São João del-Rei bom número de homens livres ocupava-se de atividades comerciais e artesanais ou exerciam funções públicas. Quanto aos escravos (homens e mulheres) eram empregados nas mais diversas atividades: agricultura, comércio itinerante, serviço doméstico, fiação, tecelagem. Veremos, mais adiante, que, ao serem interrogados sobre seus “meios de vida”, os escravos apontavam os mais diferentes “ofícios”: roceiro, ferreiro, marcineiro, alfaiate, sapateiro, costureira, etc. Estas observações sobre a cidade de São João del Rei são importantes porque a literatura tem apontado para o caráter específico da escravidão urbana. Apesar de não privilegiarmos em nosso estudo os escravos urbanos, perceber como era a vida dos escravos na cidade é relevante, uma vez que dos 12 crimes acontecidos no período 1850-1860, foram erpetrados na área urbana de São João del Rei e os 5 restantes em fazendas dos distritos sanjoanenses (São Miguel do Cajuru, Nossa Senhora da Piedade do Rio Grande e Arraial de Madre de Deus). A maior liberdade de movimentos que o escravo gozava na cidades; a possibilidade de contatos mais constantes com indivíduos de diferentes condições sociais e de trabalhar longe da vigilância do senhor implicaram em mudanças significativas nas relações sociais escravistas que não podemos deixar de considerar. Lembramos que a breve caracterização da cidade de São João del Rei e região que realizamos acima constitui-se numa tentativa de montar um cenário onde os personagens de nossa história - os escravos - praticaram suas ações criminosas.
Quanto às balizas cronológicas optamos por estudar a criminalidade escrava no período de 1850 a 1860. Tal opção justifica-se por ser esta a primeira década após a proibição do tráfico atlântico de escravos africanos. O fim do tráfico internacional, o incremento do tráfico inteprovincial; o aumento do preço dos escravos e a questão da substituição da mão-de-obra escrava pela livre, constituíram-se em fatores que, durante o século XIX, provocaram mudanças significativas nas relações entre senhores e escravos. A maior interferência do
Estado nestas relações e uma maior preocupação com o tratamento dispensado aos cativos seriam algumas dessas mudanças. Talvez percebendo à sua maneira este momento, os escravos intensificaram sua luta
contra a escravidão, seja através das fugas em massa ou da exigência de maiores espaços de autonomia.
Neste contexto, também a criminalidade escrava, cujos índices cresceram após 1850, colaborava para o desmantelamento do sistema escravista, pois fazia crescer o temor da camada proprietária frente à massa escrava. Assim, num primeiro momento deste trabalho, apresentamos uma breve notícia acerca dos estudos relacionados à criminalidade escrava e da recente produção historiográfica que revigorou o estudo da escravidão no Brasil, além de apresentarmos uma discussão sobre as fontes por nós utilizadas. Em seguida, passamos aos resultados de nossas pesquisas, ou seja, a análise dos processos criminais selecionados. Primeiramente, focalizamos os crimes contra a pessoa (ofensas físicas e homicídios) e, em seguida, os crimes contra a propriedade (roubos e furtos).
 

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