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Em nome da história de São João del-Rei . Francisco José Frazão

Descrição

Desde que tomei conhecimento da história de São João deI-Rei, lendo os livros de Antônio Gaio Sobrinho, despertou em mim uma vontade voraz e incansável de saber tudo relacionado a esse berço de cultura, tradições e história que é minha terra natal. Através de seus livros fiz uma grande viagem no tempo e na história de São João del-Rei. Descobri minhas origens, minha identidade social e, sobretudo, a importância, que também me causa orgulho, de ter, nessa terra, enterrado o meu umbigo; de podei dizer, com emoção, que sou conterrâneo de homens e mulheres que aqui nasceram ou que adotaram essa terra como berço e morada.

Gostaria também de ressaltar a memória do professor e historiador Fábio Nelson Guimarães que, muito fez pela educação e pela história são-joanenses, garimpando nas fontes primárias
documentos raros e únicos. Se, como diz André Carvalho, em nosso país são conhecidas duas
categorias bem distintas de historiadores: a daqueles que se limitam a reproduzir o que outros já publicaram, e a dos que se mergulham nos documentos dos arquivos à cata de fontes
primárias, Fábio se enquadra perfeitamente nessa segunda categoria.

Assim como nos de Antônio Gaio, encontrei nos livros de Fábio Guimarães uma leitura
agradável, fácil, objetiva e riquíssima em informações históricas. Encontrei na obra desses autores algo peculiar que sempre me atraiu, desde muito jovem, na ciência humana chamada
História. Algo de que, enquanto estudante de Filosofia durante anos, fui privado, desestimulado, desviado. Sempre encarei a História como uma ciência em movimento, dinâmica, excitante, instigante, ligada diretamente à vida do homem e ao seu papel no mundo. Sinceramente, considero-me um pouco frustrado quanto ao meu tempo de estudante, no que se refere a professores, professores mesmos, e mestres, como Fábio Guimarães e Antônio Gaio, no bom sentido da palavra!

Pelo que constatei, lendo a história de São João del-Rei, há muita informação errada por aí,
como, por exemplo, a de quem foi seu fundador: Tomé Portes ou Antônio Garcia da Cunha?
Questão que já foi muito bem esclarecida por Fábio Guimarães, quando documentou que a
Antônio Garcia da Cunha coube esse título, visto que, em 1704/1705, quando da descoberta do ouro no Ribeirão de São Francisco Xavier (Olho d'Água), e no Morro das Mercês, era ele aqui a autoridade maior, como genro e substituto de Tomé Portes del-Rei, já então morto por assassinato em 1702.

São João del-Rei sempre se destacou no palco cultural do país. Prova disso são suas duas
bicentenárias orquestras: a Lira Sanjoanense e a Ribeiro Bastos, sendo a primeira, fundada em
1776, a mais antiga das Américas. Orquestras que, em nossas festas, interpretam sempre as
sublimes composições do maior de nossos compositores, o Padre José Maria Xavier. Provas são igualmente suas inúmeras bandas de música, das quais a Teodoro de Faria conta já com mais de cem anos, fundada que foi em 1902. Nem se pode esquecer o folclorista Ulisses Passarelli, grande pesquisador de nossos Congados, Folias e Pastorinhas, algumas bicentenárias, como a do Rio das Mortes e a de São Gonçalo do Amarante (Caburu).

No que diz respeito à educação, São João del-Rei ocupou lugar de destaque e pioneirismo com sua Aula Régia de Latim, fundada em 1774, a primeira escola pública da Capitania. E, no que se refere a tratamento psiquiátrico, o pioneirismo coube à nossa Santa Casa de Misericórdia que, nos inícios do século XIX, tinha inaugurada uma ala para tratamento de doentes mentais, que durou mais de cem anos, pelo que pôde ela ser considerada o primeiro hospital psiquiátrico do país.

Nem podemos nos esquecer de que aqui também foi fundado o primeiro banco de Minas Gerais, em 1860, a Casa Bancária Custódio de Almeida Magalhães, reflexo da pujança comercial expressiva que a cidade teve no século XIX, abastecendo o Rio de Janeiro, ocupada pela Corte Portuguesa desde 1808. Até a famosa Mina de Morro Velho, em plena atividade em Nova Lima, teve suas origens em São João deI-Rei, em 1830, sob o nome de Saint John d'EI Rey Mining Company, de que restaram as ruínas do Canal dos Ingleses, na Serra do Lenheiro.

É decorrente desses fatos históricos e de muitos outros que rogo aos interessados pela cultura são-joanense, pelas nossas tradições e riquezas, que leiam os livros dos nossos historiadores e os divulguem, principalmente entre seus filhos e netos. Falem de Fábio Guimarães, de Altivo Sette, de Augusto Viegas, de Basílio de Magalhães, de Luiz Alvarenga, de Sebastião Cintra, Geraldo Guimarães... e também, em especial, daquele que ainda peleja com suas pesquisas, procurando, com seus poucos recursos, a publicação das mesmas, o professor Antônio Gaio Sobrinho.

Espero que, na posteridade, os jovens e demais conterrâneos tenham bons motivos para se orgulharem dessa terra sagrada. Faço aqui um apelo: não deixem que São João del-Rei perca sua identidade, como vem acontecendo com muitas outras cidades mineiras. São mais de 300 anos de história, de lutas, de vidas que se dedicaram a semear nesse chão a esperança de um futuro glorioso. Tornemos conhecimento de nossa história, enquanto é tempo, para que, num futuro não muito distante, nossos filhos não ignorem as suas raízes.

Fonte: Jornal da ASAP . Maio/Junho 2012

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