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A terra se enfeita para celebrar o céu . André N. P. Azevedo

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Tapetes de rua: tradição há apenas 28 anos

É Semana Santa. Punhados de areia e serragem se espalham pelos paralelepípedos do centro histórico de São João del-Rei. Um grande número de pessoas, incluindo crianças, artistas plásticos e turistas se reúnem para confeccionar, mais uma vez, os tradicionais tapetes de rua. Apesar da aparição dos primeiros tapetes de rua em São João del-Rei datarem de 1750, o cenário citado acima se repete há apenas 28 anos.
 
O ano era 1983. Para chamar a atenção para a exposição anual de arte e artesanato, criada por Eliane e Carlos de Abreu, que ocorria sempre na Semana Santa, data em que a cidade recebe maior número de turistas, um grupo de artistas, entre eles, Antônio Emílio, Carlos Magno, Francisco Arruda, Jaime Vieira, Leandro Moura, Popó, Rita Hilário, Mauro Marques, Miguel Santana, Zé Ramos e Zeu Moura, resolveram resgatar a antiga  tradição dos tapetes de rua, mas de uma forma mais artística.


Jaime Vieira (ao fundo) e Mauro Marques produzindo um de seus primeiros tapetes

A partir de então, toda Semana Santa, os mesmo artistas se reuniam para confeccionar os tapetes, que se estendiam pela Rua Getúlio Vargas. Segundo a artista Rita Hilário, 55 anos, o trabalho começava dias antes, na busca por materiais. “Subíamos a Serra do Lenheiro em busca de areia e pedíamos doação de pigmento em pó, nas casas comerciais”, diz.

Os moradores da rua ajudavam, distribuindo cafés e lanches para os artistas, que passava oito horas confeccionando os tapetes. “Acontecia de morador deixar de ajudar se o tapete não passasse na frente de sua casa, por ciúmes do vizinho mesmo”, conta o artista plástico Jaime Vieira.

Apesar de serem feitos sempre na Semana Santa e apresentarem anjos, virgens, virtudes, reis, profetas, heróis, apóstolos, ou seja, elementos bíblicos, os tapetes retratam também elementos da cultura são-joanense. “Nossos tapetes soam mais como uma forma de arte-manifesto”, explica Rita Hilário.

Como não recebiam nada pelo trabalho, os artistas deixavam uma bandeja com os dizeres: “Esmola para os pobres, mas nesse caso, os pobres somos nós mesmos!”, enquanto faziam o trabalho. O dinheiro arrecadado era utilizado para comemorar mais um trabalho terminado.

Com o sucesso dos tapetes, outros artistas foram se juntando ao grupo inicial, além de novos grupos começarem a surgir, resgatando assim a tradição que estava quase esquecida pelos são-joanenses. Porém, a falta de recursos sempre atrapalhou. “Nunca deixamos de fazer, mas tivemos que diminuir a extensão ou simplificar os tapetes”, explica Vieira.

A partir do ano 2000, a coisa mudou de figura. Os tapetes começaram a fazer parte de um projeto da Atitude Cultural, empresa patrocinada pelo Ministério da Cultura, conseguindo assim verbas para compras de materiais, ampliando então a extensão dos tapetes. Foi a partir desse ano também que o Largo da Igreja de São Francisco de Assis recebeu pela primeira vez os belos tapetes. Isso fez com que a confecção dos tapetes passasse a fazer parte do calendário turístico e cultural da cidade.

Segundo os dados da Atitude Cultural, em 2010 foram feitos aproximadamente dois mil metros de tapetes, além de promover oficinas de confecção de tapetes para crianças. Vale ressaltar que durante a confecção todos podem participar, basta aparecer.

Tapetes para ocasiões festivas
Os tapetes de rua são, normalmente, confeccionados em procissões festivas, como Ressureição e Corpus Christi, a exemplo do que ocorre em Ouro Preto. O mesmo era feito aqui, mas de forma mais simples, com iconografias simples, utilizando principalmente areia e pétalas de flores coloridas.
 
Acredita-se então que, os tapetes de rua confeccionados na Sexta-feira da paixão, são uma exclusividade de São João del-Rei, já que, tradicionalmente, nessa data lembra-se o enterro de Cristo, sendo incomum enfeitar as ruas, principalmente com tapetes coloridos.

Além disso, de acordo com Jaime Vieira, os tapetes são-joanenses são inspirados nos madonnari – tipo de pintura de rua italiana, que existe desde o século XVI e receberam esse nome por retratarem principalmente a madonna, ou seja, Nossa Senhora. A diferença é que na Itália, não são tapetes, mas sim pinturas, ou seja, são desenhados no chão mesmo, utilizando-se normalmente giz.
 
Outro fato curioso, é que na Itália são realizados festivais para a exposição dos trabalhos, nos quais, cada artista expõe o seu trabalho individualmente. Aqui, acontece justamente o contrário, os tapetes são-joanense são um sucesso por serem uma forma de expressão artística feita em conjunto e não por apenas um.

Texto de André Neves Azevedo
Publicado no Observatório da Cultura . 14 de abril de 2011
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