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Tchá Tchá, o tio do calçadão . André N. P. Azevedo

Descrição


"Não sei falar português, mas sei fazer 'paz e amor'"

Tchá Tchá não sabe usar a máquina de cartão de crédito. Está acostumado a vender do jeito antigo, no boca-a-boca, negociando com o cliente, como aprendeu na Tanzânia, um país da África Oriental. Sua loja, localizada no calçadão da Sebastião Sete, no centro-histórico de São João del-Rei é famosa por “vender de tudo”, sendo possível encontrar roupas típicas da África, bonecas, cortadores de unha, coco-verde e naftalina.

Sempre de bom-humor, Tchá Tchá, que na verdade se chama Abdulaziz Nazarali Waljihirji, conta que se mudou para o Brasil sem saber uma palavra de português. “Não sabia falar nem bom dia”, diz. Embora esteja sempre sorrindo, Tchá Tchá passou por dificuldade ao chegar ao Brasil. “Minha família perdeu tudo na Tanzânia, então eu vim morar com meu irmão aqui, mas briguei com ele no primeiro dia. E aí como faz?”, pergunta enquanto coça a cabeça.
No início virou camelô, batendo de porta em porta nas cidades vizinhas de São João del-Rei. O problema, segundo ele, é que ninguém comprava nada, já que não entendiam o que ele dizia. “Fui para Nazareno, bati em mais de 50 casas e vendi só uma pulseira. No final do dia, eu não tinha nem o dinheiro da passagem de volta. Sentei em uma praça e comecei a chorar”, lembra. Apesar das dificuldades de comunicação, Tchá Tchá conseguiu conquistar muitos clientes que, além de comprar seus produtos, lhe ensinavam algumas palavras em português. “Aprendi a falar com os clientes”, diz.
O apelido vem dos tempos de camelô. Para chamar a atenção da população Tchá Tchá passava gritando: “Mamãe, olha o tio aí”, em hindu, língua que aprendeu com seu avô, que era indiano. O Tchá Tchá, que na verdade se escreve “चाचा”, significa tio.


Tchá Tchá vende de tudo um pouco em sua loja

Recentemente Tchá Tchá foi à Tanzânia visitar sua família e ficou seis meses por lá. Porém ao voltar, sua loja havia sido reformada pelo seu irmão. “Gostava mais da minha loja toda bagunçada, mas minha mulher gostou”, confessa. Vaidoso, Tchá Tchá diz ter 18 filhos (todos homens), três mulheres e três amantes. Sempre que perguntam a sua idade, coça a cabeça e responde: “120 anos!”.
 
Apesar de aparentar-se um pouco velho, Tchá Tchá está longe de ter 120 anos, mas reclama da idade. “Com essa idade e a gente ainda tem que aprender a mexer nessas coisas”, diz, referindo-se a maquina de cartão de crédito.
 
Embora tenha feito carreira como vendedor, Tchá Tchá é famoso também por seus dotes culinários. Conhecedor de vários pratos árabes, Tchá Tchá faz questão de oferecer o seu amendoim com especiarias, que ele chama de “Viagra de pobre”, acompanhado por um copo de água de coco.
No início do ano que vem, Tchá Tchá deve retornar à Tanzânia novamente, mas não pretende ficar por muito tempo em seu país natal. “Da última vez que estive lá, trouxe muitas coisas da África e os clientes gostaram, vou aproveitar para trazer mais”, explica. “Gosto muito da Tanzânia, mas meu lugar é aqui. Quero morrer no Brasil.”, completa.

Publicado no Observatório da Cultura . 13 de julho de 2011
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